Após diversas experiências na implantação de laboratórios de calibração, percebemos a importância de abordar alguns tópicos relevantes ao dia a dia da metrologia, instrumentação e Calibração. Abaixo estão as observações que serão úteis para os profissionais em suas atividades.
Por que calibrar um instrumento ?
Muitas empresas estão calibrando instrumentos “sem um por que?”. Se estamos calibrando, estamos calibrando para atender normas, ISO9000 (Qualidade), ISO14000 (Meio Ambiente) OSHAS 18000 (Segurança e Saúde Ocupacional), ISO22000 (Alimentar) e assim em compliance com as normas que a companhia visa cumprir.
Agora vem o importante, os Tags (instrumentos que calibramos), cada um deles tem uma função no processo e daí vem o motivo pelo qual calibramos e o seu grau de impacto nas normas que queremos atender.
Vale a pena se perguntar, estou calibrando este instrumento por quê? Qual norma quero atender? Quais são os limites de tolerância de processo?
Tão importante quanto saber porque calibrar, será determinar qual será a frequência que um instrumento de medição deve ser calibrado. A frequência ideal para a calibração de um instrumento pode variar de acordo com o tipo de instrumento a ser calibrado e a frequência de utilização do mesmo.
Não trata-se de uma regra, mas existem diversos estudos para se determinar a frequência ideal de calibração de um instrumento, mas é sempre importante analisar onde e como o mesmo será utilizado antes de se determinar um período.
Laboratório de Calibração
A performance de um laboratório de calibração, em conformidade com a 17025, deve estar suportada por um tripé, as pessoas, uma gestão eficiente e padrões.
As pessoas devem estar treinadas, com evidências destes treinamentos, nos equipamentos que utilizam, no software que utilizam e nas normas e procedimentos utilizados. Indicamos aos técnicos, conhecer a REMESP (Rede Metrológica de São Paulo) para participar de diversos treinamentos e oficinas.
A gestão eficiente deve ser estabelecida através de um software de Calibração, e nesta etapa não se pode confundir o “micro” com o “macro”. Um ERP corporativo é “macro”, vai dar suporte no todo, na gestão de datas, no aporte de horas técnicas, no apontamento dos custos, nos apontamentos fiscais e financeiros dentre as mais fortes ações dos ERPs.
Já o software de Calibração é “micro”, cuidará da emissão dos certificados de calibração, com cálculos de erros e incertezas combinadas entre a medida e o padrão utilizado. Vai expressar os gráficos de Calibração antes e depois de eventuais ajustes, vai possibilitar os estudos de alteração de frequência de Calibração, além de viabilizar a automatização dos processos de Calibração integrados aos calibradores via comunicação serial/USB/Ethernet.
Os padrões devem estar devidamente certificados, com validade e com erros e incertezas compatíveis, com um valor inferior a tolerância estabelecida no critério de aceitação das malhas e instrumentos calibrados. Observar que existe um processo de reconhecimento dos profissionais para o novo Sistema de Certificação de Metrologístas.
Trata-se de um processo para atestar a qualidade do trabalho realizado em laboratórios voltados à Calibração de equipamentos e instrumentos de medição. Será criado inicialmente para atender à necessidade de mão de obra qualificada na Rede Metrológica do Estado de São Paulo. A demanda para esse perfil de profissional aumenta a cada dia em função do crescimento da indústria, dos serviços e das demandas metrológicas.
Padrões de Calibração
Um outro detalhe que deve ser lembrado, quando falamos de Calibração em transmissores sejam de pressão, temperatura ou qualquer outra grandeza, mas que para serem calibrados necessitam de dois padrões, em grandezas diferentes e com seus erros e incertezas expressos e analisados, dentro dos critérios de aceitação.
Daí então a necessidade de ser realizada a Análise Crítica dos Certificados. Por exemplo, em uma Calibração de um transmissor de pressão, o padrão de pressão é tão importante e se faz necessário quanto o padrão de sinal elétrico, visto que estaremos realizando a leitura da pressão e da corrente e necessitamos combinar todos os erros e incertezas envolvidos nesta Calibração.
O mais importante será estabelecer o range e acurácia para este conjunto. O ideal seria realizar uma discussão com os requisitantes deste tipo de aplicação, questionando o que desejam medir, quais são os pontos importantes de medição e qual o nível de exigência em termos de qualidade, segurança e meio ambiente. De posse destes dados será possível dimensionar a faixa, o range de medição e demais itens para estabelecer uma folha de dados.
Deve-se também levar em consideração a dissipação do calor e pressão no meio, as proteções envolvidas de blindagem de ruídos, a velocidade de variação da pressão e da temperatura na aplicação, o range a ser medido e o nível de exatidão requerida pelo processo/aplicação, pois serão sempre fatores e efeitos que devem ser considerados na calibração e aplicação de instrumentos de medição.
Calibração em Malha
Alguns profissionais chamam de Calibração em malha a ação de gerar sinal na ponta do cabo de um determinado instrumento e ler este valor na IHM ou nos supervisores ou no SDCD. Isto não é uma Calibração em malha, calibração em malha é o ato de gerar a grandeza primaria no primeiro elemento da malha e ler este valor na IHM, no supervisório ou no SDCD.
Por exemplo, em uma Calibração de uma malha de temperatura composta pelo Pt100 (TE), pelo transmissor (TT) e pelo cartão do CLP interligado ao sistema de supervisão, calibrar ponto a ponto, será calibrar o TE utilizando um banho térmico, gerando calor e lendo o resultado. Calibrar o transmissor utilizando um gerador de sinal ohms e leitor de mA e por fim calibrar a entrada do cartão do CLP utilizando um gerador de mA e observando o valor no IHM, sistema de supervisão ou SCDC.
Calibrar em malha será utilizar um banho térmico para gerar calor padronizado no TE e observar o valor no IHM, sistema de supervisão ou SCDC, diretamente e já avaliar erros e incertezas envolvidas.
A Calibração em malha poderá ser realizada visando determinar um erro global de um determinado conjunto de instrumentos em um processo de monitoramento e/ou controle. Se os erros presentes nesta malha são maiores que a exatidão determinada, medições intermediárias deverão ser feitas para determinar a origem dos erros. Os componentes da malha podem exigir uma Calibração individual com a finalidade de retornar as especificações originais.